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17 de Maio de 2017 às 15:57

Conflito no campo em MS: UEMS exibe o filme “Martírio” sobre a violência nos conflitos de luta pela terra no Mato Grosso do Sul


Estão agendadas três apresentações do filme Martírio na Universidade Estadual de Mat Grosso do Sul (UEMS), Este filme trata das violências sofridas pelos povos Guarani e Kaiowá no sul do estado na luta pela manutenção de suas terras ancestrais. As exibições acontecem no  anfiteatro do bloco A. As datas e turnos são os seguintes: 18/05 às 18h30; 22/05 às 13h e dia 31/05 às 8h.

Sinopse - O retorno ao princípio da grande marcha de retomada dos territórios sagrados Guarani Kaiowá através das filmagens de Vincent Carelli, que registrou o nascedouro do movimento na década de 1980. Vinte anos mais tarde, tomado pelos relatos de sucessivos massacres, Carelli busca as origens deste genocídio, um conflito de forças desproporcionais: a insurgência pacífica e obstinada dos despossuídos Guarani Kaiowá frente ao poderoso aparato do agronegócio.

 

Leia abaixo artigo do professor Francisco Givanildo dos Santos a respeito do filme.

 

Uma reflexão sobre Martírio

 

Emoção, indignação, denúncia, realidade, história, resistência e luta. São sentimentos e consciência politica, que se misturam fortemente ao assistirmos o filme Martírio, de Vincent Carelli. O trabalho é resultado de pesquisa em diversos arquivos, de filmagens e coleta de depoimentos, ao longo de 20 anos, referente a um dos principais problemas sociais brasileiro: a situação dos povos indígenas Guarani Kaiowá, aqui em Mato Grosso do Sul.

Interessante, mas compreensível que a estréia do filme no circuito comercial em Campo Grande só tenha ocorrido em razão da pressão. Pessoas e entidades comprometidas com a luta dos povos indígenas pressionaram os/as comerciantes que monopolizam a chamada “indústria cultural do cinema” na cidade. Compreensível, porque se trata de uma denuncia devidamente documentada e expressada pela voz e o silencio das próprias vitimas, os povos Guarani Kaiowá, que foram expropriados das das suas terras no decorrer da história.

Viviam e se reproduziam livremente nessa região. No século XVIII, os bandeirantes adentram no território ao sul do então Mato Grosso, caçaram ou encurralam os Guarani Kaiowá. Em seguida, após a Guerra do Paraguai, o governo imperial e também do regime republicano, arrenda para a companhia Mate Laranjeira milhões de hectares de terra pertencentes a esses povos, agora reduzidos a mão de obra barata nos ervais da companhia. Na passagem do século XVIII para o XIX, a construção ideológica de uma nação rumo ao progresso ganha força, de inserção no mundo considerado civilizado.

Os povos indígenas originários não tinham espaço no projeto excludente de nação que a elite se empenhava em construir, porque esta pautava-se no etnocentrismo e numa perspectiva humanitária. Nesse sentido, foi criado em 1910 o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), um instrumento oficial cujas tarefas importantes eram “moldar” o/a índio/a em um novo ser e civilizar, desenraizado/a de sua cultura tradicional e obrigado/a a viver em pequenas reservas.

Não foi diferente a politica oficial de colonização da fronteira oeste empreendida pelo governo de Getúlio Vargas, cujo exemplo foi a criação da Colonia Agrícola Nacional de Dourados, em 1940. Muito menos ainda, a partir da década de 1980, as políticas oficiais de incentivo a expansão do agronegócio com a plantação da soja, pastos para pecuária, plantações de milho e cana para a produção de açúcar e de etanol.

Tendo como referência as conquistas importantes na Constituição de 1988, como o direito a demarcação de seus territórios e o reconhecimento a sua auto determinação, a força inquebrantável dos seus antepassados e do poder de suas rezas que invocam um mundo espiritual, a capacidade de articulação e mobilização de importantes lideranças, esses povos se auto organizaram e promoveram a retomada de seus territórios pelas próprias mãos, já que o governo federal não cumpriu sua responsabilidade de fato e direito para com as demandas históricas dos Guarani Kaiowá.

O filme retrata a dura realidade atual em que vivem os/as nossos/as irmãos/ãs indígenas, confinados em pequenas aldeias, morando em barracos de lona, sentindo o desprezo e o ódio , sofrendo todo o tipo de violência, privados das necessidades básicas de sobrevivência, inúmeras lideranças assassinadas, conflitos internos e elevado numero de suicídios. Retrata também a voz daqueles/as que se opõem aos interesses dos povos indígenas, a bancada ruralista, autoridades politicas do poder estadual e fazendeiros/as que compõem a elite econômica local.

Parabéns às mães Guarani Kaiowá, que nas situações mais adversas, encontram força para lutar pela sua vida, de seus filhos/as, do seu povo.

Mulheres guerreiras, mulheres da luta, um filme que vale a pena assistir.

 


 Francisco Givanildo dos Santos
Professor de História na rede pública de ensino e Mestre em Educação

 



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